artigo para Revista Museu
18 de maio de 2014
Não há neutralidade na ação museológica. Desde a coleta à
socialização do acervo existem escolhas, seleção, interpretação e valoração do
objeto e das coleções. Toma-se partido. Propõem-se uma idéia.
Waldisa Russio dizia já na década de 1980 que museu é o lugar
onde se dá a relação direta entre homem e o objeto/testemunho.
Fonte primária. Ensino informal. É neste sentido que a
experiência do conhecimento no museu difere da escola tradicional e do ensino formal.
Mais que experiência, o conhecimento no museu é aventura.
Sem mediação, as emoções eclodiram e me alcançaram como se
eu fora ainda criança.
A relação da criança com o mundo é inocente. Essa inocência
é a ausência de pré – conceitos.
As coisas, a realidade, os cheiros, as cores, os sons e as
pessoas que conheci pelos lugares que passei, sem mediações, são as que me
enriqueceram e me integram. Eu era o meio e o fim. Embora tivesse muita
informação cultural, a entrega ao novo, à surpresa e à aventura da descoberta
me colocaram em relação direta com as minhas emoções. Provocadas pelo
conhecimento que adquiria, cada emoção me causava mais curiosidade, que mais me
emocionavam, para o bem e para o mal. Revelavam a mim mesma.
A educação formal mediada leva à erudição. Acumulo de
informação. Paulo Freire a chamava de educação bancária.
A experiência vivida, ao contrário, gera cultura. É
conhecimento integrado ao ser e que nos modifica e enriquece. Riqueza que nada
nem ninguém nos tira. Inesquecíveis porque memorizadas por todos os sentidos.
Das poucas visitas guiadas que fiz e de suas torrentes de
informações, sejam em cidades ou museus, sou incapaz de lembrar. Inadequadas,
eram como se alguém nos lesse um livro durante um concerto.
Certa vez, em uma visita técnica ao Musée du Quai Branly em
Paris, o gentil diretor como todo bom francês, gostava de longas conversas. Ao
nos acompanhar a uma exposição (eu ansiosa por vê-la) falou tanto sobre o que
nela se tratava que quase esvaziou a visita.
O objeto/testemunho em si é meio, mesmo que seja uma
história, uma experiência ou a memória de outrem.
A mediação em museus será um facilitador na medida em que cria
pontes. Não viadutos, esses como imagem da sobreposição ou redundância. Pontes
entre o espectador e o objeto, entre culturas diversas, entre gerações, entre
passado e presente. Pontes entre acervos, coleções e objetos distantes.
Muito cuidado com os serviços educativos e com as visitas
guiadas. Sua única e adequada linguagem é a arte. Linguagem artística. Seu
roteiro uma aventura, uma viagem.
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