MUSEUS (MEMÓRIA +
CRIATIVIDADE) = PROGRESSO SOCIAL
Artigo para Revista Museu
18 de maio de 2013
Artigo para Revista Museu
18 de maio de 2013
Em primeira leitura do tema/título no cartaz do Dia Internacional
de Museus 2013, confesso que me incomodou a utilização da expressão - progresso
social: em espanhol Progreso Social
e em francês Progrès Social.
Importante notar, no entanto que em inglês usou-se a expressão Social Change onde change pode
significar também mudança, o que me parece mais adequado ou me incomoda menos.
Os museus são lugares onde se abrigam ícones, símbolos e valores
culturais.
Materiais ou imateriais, naturais ou artefatos,
individualmente ou em conjuntos os objetos de museu são na origem recortes que
revelam e, portanto representam as idéias e os valores culturais do
colecionador ou colecionadores. Neste sentido, os museus em si são criaturas.
Intrigante saber que
existem museus em todas as partes do mundo. Culturas diferentes encontraram uma
ação comum para a necessidade de selecionar e preservar suas memórias.
Retomando o primeiro parágrafo. Os museus são instituições
ou criaturas de função social, status que os diferencia das coleções
particulares. Eles não só acompanham as mudanças sociais como podem também
determiná-las. A memória e a criatividade humana estão condicionadas e
impregnadas de escolhas, de seleção, de perda e de esquecimento.
Eu já afirmei em outros artigos que não há neutralidade nas
ações museais uma vez que pressupõem escolhas e todo ato de escolha é político.
Já escrevi também, há alguns anos, um artigo que se intitulava Museus – Instrumentos
de Conscientização ou de Alienação.
Não se pode afirmar que o progresso ou mudança social
da comunidade seja um fato necessariamente
positivo. Penso que os museus podem ir além e mostrar como, muitas vezes, uma
comunidade regrediu ou “involuiu” socialmente. Trata-se então de definir essa
“positividade”.
Os museus são instituições de natureza universal sim, mas
contem e revelam o caráter particular dos valores culturais das comunidades. O
conceito de “positividade” de progresso ou mudança social não é universal e sim
relativo aos valores culturais de uma comunidade.
O avô “caipira” de meu marido (ele era nascido no interior
do Estado de São Paulo) usava uma expressão que adotei por gostar muito – “Esse
mundo é mesmo sortido”. Por esse motivo é que não se pode ser maniqueísta em
matéria de valores culturais e é essa a verdadeira riqueza destas instituições
que tanto gostamos: os museus. Gostamos porque necessários à nossa condição
humana. Somos criativos e isso nos diferencia dos outros seres da natureza.
Neste sentido podemos sim considerar, valorizar e estimular ações criativas nos museus e evoluir
positivamente, contribuindo para sua renovação e desenvolvimento cultural do
público.
Para contemplar e respeitar a diversidade e a riqueza
cultural da humanidade, os museus assim como os homens têm que conhecer e
revelar suas diferenças. Quanto mais particular mais universal. Tantas
diferenças, tantos homens, tantos museus. O mundo globalizado é uma ameaça às
diferenças, essas que em última analise são a riqueza da humanidade. Nossa
criatividade nos museus está em revelar e propiciar a consciência crítica. Essa
é nossa função social.
Hoje as exposições nos museus são verdadeiras criações
artísticas, verdadeiras obras de arte. Valendo-se de modernas tecnologias e interatividade
criam ambientes teatrais, dramáticos e cenográficos. Extremamente atraentes,
mais que fim estético em si mesmo, elas podem ser meio criativo de sensibilização,
reflexão e conscientização.
Existe um aparente paradoxo em nossa ação preservacionista.
Temos que conservar sem sermos conservadores.
Temos que conservar tecnicamente sem sermos politicamente
conservadores.
Por fim eu não poderia deixar de comentar que, num mundo
mercantilizado como o nosso, os museus são trincheiras. As últimas trincheiras
onde o significado que se dá ao objeto não se reduz e não se permite ao desejo de
consumo. Seu pertencimento é coletivo. Como nós homens, os objetos nos museus
são portadores de conhecimento.
Meu irmão descobriu o prazer de comprar obras de arte e me
disse: - “você como museóloga tem mais capacidade de avaliação para fazer boas
compras de obras de arte, não?” e eu respondi: “vejo tanta beleza e tanta
riqueza nos museus que para mim ficou impossível escolher, individualizar ou
adquirir.”
É por isso que gosto dos museus. Eles nos mostram que somos
ricos por que somos parte da humanidade. O conhecimento é nossa forma de
apropriação. Propriedade socializada, comum, sem angústia do desejo, sem
competição social.
A propriedade de algumas obras de arte é ilusória. Não me
emociona. Eu quero mais.
Parabéns neste dia aos trabalhadores dos museus.
Artigo publicado http://www.revistamuseu.com.br/18demaio/artigos.asp?id=36514
Artigo publicado http://www.revistamuseu.com.br/18demaio/artigos.asp?id=36514
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