quarta-feira, 19 de junho de 2013

MUSEUS (MEMÓRIA + CRIATIVIDADE) = PROGRESSO SOCIAL

MUSEUS (MEMÓRIA + CRIATIVIDADE) = PROGRESSO SOCIAL

Artigo para Revista Museu
18 de maio de 2013


Em primeira leitura do tema/título no cartaz do Dia Internacional de Museus 2013, confesso que me incomodou a utilização da expressão - progresso social: em espanhol Progreso Social e em francês Progrès Social. Importante notar, no entanto que em inglês usou-se a expressão Social Change onde change pode significar também mudança, o que me parece mais adequado ou me incomoda menos.
Os museus são lugares onde se abrigam ícones, símbolos e valores culturais.
Materiais ou imateriais, naturais ou artefatos, individualmente ou em conjuntos os objetos de museu são na origem recortes que revelam e, portanto representam as idéias e os valores culturais do colecionador ou colecionadores. Neste sentido, os museus em si são criaturas.
 Intrigante saber que existem museus em todas as partes do mundo. Culturas diferentes encontraram uma ação comum para a necessidade de selecionar e preservar suas memórias.
Retomando o primeiro parágrafo. Os museus são instituições ou criaturas de função social, status que os diferencia das coleções particulares. Eles não só acompanham as mudanças sociais como podem também determiná-las. A memória e a criatividade humana estão condicionadas e impregnadas de escolhas, de seleção, de perda e de esquecimento.
Eu já afirmei em outros artigos que não há neutralidade nas ações museais uma vez que pressupõem escolhas e todo ato de escolha é político. Já escrevi também, há alguns anos, um artigo que se intitulava Museus – Instrumentos de Conscientização ou de Alienação.
Não se pode afirmar que o progresso ou mudança social da comunidade seja um fato necessariamente positivo. Penso que os museus podem ir além e mostrar como, muitas vezes, uma comunidade regrediu ou “involuiu” socialmente. Trata-se então de definir essa “positividade”.
Os museus são instituições de natureza universal sim, mas contem e revelam o caráter particular dos valores culturais das comunidades. O conceito de “positividade” de progresso ou mudança social não é universal e sim relativo aos valores culturais de uma comunidade.
O avô “caipira” de meu marido (ele era nascido no interior do Estado de São Paulo) usava uma expressão que adotei por gostar muito – “Esse mundo é mesmo sortido”. Por esse motivo é que não se pode ser maniqueísta em matéria de valores culturais e é essa a verdadeira riqueza destas instituições que tanto gostamos: os museus. Gostamos porque necessários à nossa condição humana. Somos criativos e isso nos diferencia dos outros seres da natureza. Neste sentido podemos sim considerar, valorizar e estimular ações criativas nos museus e evoluir positivamente, contribuindo para sua renovação e desenvolvimento cultural do público.
Para contemplar e respeitar a diversidade e a riqueza cultural da humanidade, os museus assim como os homens têm que conhecer e revelar suas diferenças. Quanto mais particular mais universal. Tantas diferenças, tantos homens, tantos museus. O mundo globalizado é uma ameaça às diferenças, essas que em última analise são a riqueza da humanidade. Nossa criatividade nos museus está em revelar e propiciar a consciência crítica. Essa é nossa função social.
Hoje as exposições nos museus são verdadeiras criações artísticas, verdadeiras obras de arte. Valendo-se de modernas tecnologias e interatividade criam ambientes teatrais, dramáticos e cenográficos. Extremamente atraentes, mais que fim estético em si mesmo, elas podem ser meio criativo de sensibilização, reflexão e conscientização.
Existe um aparente paradoxo em nossa ação preservacionista. Temos que conservar sem sermos conservadores.  Temos que conservar tecnicamente sem sermos politicamente conservadores. 
Por fim eu não poderia deixar de comentar que, num mundo mercantilizado como o nosso, os museus são trincheiras. As últimas trincheiras onde o significado que se dá ao objeto não se reduz e não se permite ao desejo de consumo. Seu pertencimento é coletivo. Como nós homens, os objetos nos museus são portadores de conhecimento.
Meu irmão descobriu o prazer de comprar obras de arte e me disse: - “você como museóloga tem mais capacidade de avaliação para fazer boas compras de obras de arte, não?” e eu respondi: “vejo tanta beleza e tanta riqueza nos museus que para mim ficou impossível escolher, individualizar ou adquirir.”
É por isso que gosto dos museus. Eles nos mostram que somos ricos por que somos parte da humanidade. O conhecimento é nossa forma de apropriação. Propriedade socializada, comum, sem angústia do desejo, sem competição social.
A propriedade de algumas obras de arte é ilusória. Não me emociona. Eu quero mais.

Parabéns neste dia aos trabalhadores dos museus.

Artigo publicado http://www.revistamuseu.com.br/18demaio/artigos.asp?id=36514

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